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terça-feira, 3 de janeiro de 2012

Pictos





Os pictos eram antigos habitantes da Escócia que estabeleceram seu próprio reino e lutaram contra os romanos na Britânia. Fontes romanas afirmam que os pictos teriam um poderoso reino com centro em Strathmore. Tiveram que enfrentar o advento de outros povos à Grã-Bretanha, entre eles os anglos da Úmbria do Norte e os escotos procedentes da Irlanda, que formaram um reino na Dalriada.

As invasões nórdicas nos século VII e IX parecem ter levado os pictos e escotos a se unirem, pois, em 843, Kenneth I MacAlpin, antes rei dos escotos, tornou-se também rei dos pictos. A partir de então, toda a Escócia reconhecia um só rei. Eles venceram os vikings e os anglo-saxões e criaram a Escócia.
Segundo um estudo efectuado pelo geneticista Bryan Sykes, os pictos seriam originários da península Ibérica. 

Os Pictos como povo constituem um enigma. Alguns especialistas defendem que seriam uma tribo celta, outros, por outro lado, crêem tratar-se de um povo mais antigo. Os escritores romanos sempre os destinguiram dos celtas da escócia, surpreendendo-se pela sua ferocidade e o hábito barbárico de se pintarem ou tatuarem. Até o nome "Pictos" não ajuda, na medida em que deriva da palavra latina picti, que significa simplesmente "pintados" - uma referência às suas pinturas ou tatuagens de guerra.

O nome que os Pictos davam a si mesmo perdeu-se.
As descrições dos Pictos traçam um retrato de um povo pequeno, robusto mas delgado, pele amarelecida, de todo diferentes dos Gauleses, cuja pele mais clara, altura e constituição impressionavam os escritores romanos.
O folclore escocês fala dos "pechs". Ao longo dos séculos estes foram tornando-se numa raça mágica de fadas e duendes, mas muitos especialistas crêem que se trata duma "memória popular" dos Pictos, o que indica que seriam vistos pelos Celtas da Escócia como uma raça separada e não apenas uma tribo separada. A juntar com as diferenças físicas, parece que os Pictos poderiam ser os últimos vestígios da população pré-Celtica da Grã-Bretanha, mas não há certeza.





FILME CENTURIÃO:

Retrata o conflito de Romanos e Pictos.







Filmaço, vale a pena conferir!


segunda-feira, 5 de dezembro de 2011

Livro de Kells




O Livro de Kells (Book of Kells; em irlandês: Leabhar Cheanannais), também conhecido como Grande Evangeliário de São Columba, é um manuscrito ilustrado com motivos ornamentais, feito por monges celtas por volta do ano 800 AD no estilo conhecido por arte insular.
Peça principal do cristianismo irlandês e da arte hiberno-saxônica, constitui, apesar de não concluído, um dos mais suntuosos manuscritos iluminados que restaram da Idade Média. Em razão da sua grande beleza e da excelente técnica do seu acabamento, este manuscrito é considerado por muitos especialistas como um dos mais importantes vestígios da arte religiosa medieval. Escrito em latim, o Livro de Kells contém os quatro Evangelhos do Novo Testamento, além de notas preliminares e explicativas, e numerosas ilustrações e iluminuras coloridas. O manuscrito encontra-se exposto permanentemente na biblioteca do Trinity College de Dublin, República da Irlanda, sob a referência MS A. I.



História

 

 

 Origens

 

O Livro de Kells é o mais ilustre representante de um grupo de manuscritos conhecido por estilo insular produzidos entre o final do século VI e o início do IX, nos monastérios da Irlanda, Escócia e do norte da Inglaterra. Estão entre eles o Cathach de São Columba, o Ambrosiana Orosius, um fragmento de evangelho na biblioteca da catedral de Durham (todos do início do século VII), e o Livro de Durrow (da segunda metade do século VII). No começo do século VIII foram produzidos os Evangelhos de Durham, os Evangelhos de Echternach, os Evangelhos de Lindisfarne e os Evangelhos de Lichfield. Todos estes manuscritos apresentam semelhanças do ponto de vista do estilo artístico, da escrita e das tradições escritas, as quais têm possibilitado reagrupá-los na mesma família. O estilo plenamente conseguido das colorações coloca o Livro de Kells entre as obras mais tardias desta série, por volta do final do século VIII ou início do IX, ou seja, na mesma época do Livro de Armagh. A obra respeita a maioria das normas iconográficas e estilísticas presentes nestes escritos mais antigos: por exemplo, a forma das letras decoradas que iniciam cada um dos quatro Evangelhos é muito semelhante entre todos os manuscritos das Ilhas Britânicas compostos nesta época. Compare a página introdutória do Evangelho segundo Mateus nos Evangelhos de Lindisfarne com a do Livro de Kells. Ambas possuem intrincados desenhos decorativos no interior dos contornos das letras iniciais do texto.




Abadia de Kells



O Livro de Kells deve seu nome à abadia de Kells, situada em Kells, no condado de Meath, Irlanda. A abadia, onde conservou-se o manuscrito por um grande período da Idade Média, foi fundada no início do século IX, na época das invasões vikings. Os monges eram originários do monastério de Iona, localizado numa das ilhas Hébridas situada em frente à costa oeste da Escócia. Iona possuía uma das comunidades monásticas mais importantes da região desde que São Columba, o grande evangelizador da Escócia, que a havia tornado seu principal centro de irradiação no século VI. Quando a multiplicação das incursões vikings acabou tornando a ilha de Iona demasiado perigosa, a maioria dos monges partiram para Kells, que converteu-se assim no novo centro das comunidades fundadas por Columba.
A determinação exata do lugar e da data da produção do manuscrito tem sido fonte de inúmeros debates. Segundo a tradição, o livro data da época de São Columba (também conhecido por São Columcille), talvez escrito por ele mesmo em pessoa. Contudo, estudos paleográficos têm demonstrado que esta hipótese não é verdadeira, uma vez que o estilo caligráfico usado no Livro de Kells desenvolveu-se posteriormente à morte de Columba. Evidências mostram que o Livro de Kells foi escrito por volta do ano 800. Há uma outra tradição, com maior aceitação pelos estudiosos irlandeses, que sugere ele ter sido criado por ocasião do aniversário de 200 anos da morte do santo.
Produziram-se, pelo menos, cinco teorias diferentes sobre a origem geográfica do manuscrito. Na primeira, o livro poderia ter sido escrito em Iona e trazido às pressas para Kells, o que explicaria a razão dele nunca ter sido concluído.




Abadia de Iona



Na segunda, sua redação poderia ter-se iniciado em Iona antes de ser continuada em Kells, onde teria sido interrompida por algum motivo ignorado. Outros pesquisadores aventuram que o manuscrito poderia ter sido totalmente escrito na scriptoria de Kells. Uma quarta hipótese situa a criação original da obra no norte da Inglaterra, possivelmente em Lindisfarne, antes de ser levada até Iona e depois para Kells. O Livro de Kells, finalmente, poderia ter sido produzido em um monastério desconhecido na Escócia. Embora a questão da exata localização da produção do livro provavelmente nunca seja respondida de maneira conclusiva, a segunda teoria baseada na dupla origem de Kells e Iona é atualmente a mais amplamente aceita. Por outro lado, sem querer determinar qual a hipótese correta, o certo é que o Livro de Kells foi produzido por monges pertencentes a uma das comunidades de São Columba, que mantinham estreitas relações com o monastério de Iona.



Período medieval

 

Seja qual for o lugar em que foi criado, os historiadores estão totalmente convencidos da presença do Livro de Kells na abadia de mesmo nome no mínimo a partir do século XII, ou ainda no início do XI. Uma passagem dos Anais de Ulster, sobre o ano de 1006, registra que o grande Evangelho de Columcille [i.e Columba], principal relíquia do mundo ocidental, foi subtraído sub-repticiamente em plena noite de uma sacristia da grande igreja de pedra de Cenannas [i.e Kells] devido ao seu precioso estojo. O manuscrito foi encontrado meses mais tarde sob um monte de terra, sem a sua capa decorada com ouro e pedras preciosas. Caso se concorde com esta muito provável hipótese, então o manuscrito em questão é mesmo o Livro de Kells, tratando-se então da primeira data em que se pode atribuir com bastante certeza a existência da obra em Kells.
A retirada violenta da capa explicaria, ainda, a perda de algumas folhas do início e fim da obra.
No século XII, foram copiados certos documentos referentes às terras de propriedade da abadia de Kells sobre algumas folhas em branco do Livro de Kells, o que proporciona uma nova confirmação da presença da obra neste estabelecimento monástico. Devido à escassez de papel na Idade Média, a cópia de documentos no meio de obras tão importantes como o Livro de Kells era uma prática habitual.




 Livro de Kildare

 

Um escritor do século XII, Giraldus Cambresis (Geraldo de Gales), descreve em uma famosa passagem de sua Topographia Hibernica um grande livro evangélico que havia admirado em Kildare, nas proximidades de Kells, e que supõe-se seria o Livro de Kells. A descrição, em todo caso, parece concordar:


Cquote1.svg Este livro contém a harmonia dos Quatro Evangelistas buscada por São Jerônimo, com diferentes ilustrações em quase todas as página e que se distinguem por cores variadas. Aqui podeis ver o rosto de majestade, divinamente desenhado, aqui os símbolos místicos dos evangelistas, cada um com suas asas, às vezes seis, às vezes quatro, às vezes duas; aqui a águia, ali o touro, lá o homem e acolá o leão, e outras formas quase que infinitas. Se observadas superficialmente, com um olhar rápido, pensareis que não são mais do que esboços, e não um trabalho cuidadoso. A mais refinada habilidade está toda ela ao seu redor, mas poderíeis não percebê-la. Olhai com mais atenção e penetrareis sem dúvida no coração da arte. Discernireis complexidades tão delicadas e sutis, tão cheias de contornos e de ligações, com cores tão frescas e vivas, que poderíeis deduzir que tudo isto é obra de um anjo, e não de um homem.

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Uma vez que Geraldo informa ter visto este livro em Kildare, podia ser que trata-se de outra obra igual em qualidade, mas atualmente perdida. Mais provavelmente, Geraldo poderia simplesmente ter confundido Kells e Kildare.
A Abadia de Kells foi fechada devido às reformas eclesiásticas do século XII. A igreja da abadia foi transformada em uma igreja paroquial, na qual o Livro de Kells permaneceu.



 Período moderno

 

 

O Livro de Kells permaneceu em Kells até 1654. Nesse ano, a cavalaria de Olivier Cromwell estabeleceu uma guarnição na igreja local, e o governador da aldeia enviou o manuscrito a Dublin para uma maior segurança. O livro foi apresentado aos universitários do Trinity College em 1661 por Henry Jones, que se converteria em bispo de Meath durante o reinado de Carlos II. Salvo em poucas ocasiões, como exposições temporárias, o Livro de Kells nunca mais deixou o Trinity College. Desde o século XIX é objeto de uma exposição permanente e aberta ao público na Velha Biblioteca (Old Library) da universidade.
No século XVI, os números de capítulo dos Evangelhos, estabelecidos oficialmente no século XIII pelo Arcebispo da Cantuária, Stephen Langton, foram escritos às margens das páginas em números romanos. Em 1621, as folhas foram numeradas pelo bispo de Meath, James Ussher. Em 1849, a rainha Vitória e o princepe Alberto foram convidados a assinar o livro: na realidade assinaram sobre uma folha colocada posteriormente à criação da obra, mas pensavam estar assinando sobre o original. Esta folha foi retirada quando o livro foi reencardernado em 1953.

O manuscrito sofreu várias reencadernações ao longo dos séculos. Em uma destas ocasiões, no século XVIII, as páginas foram recortadas sem o menor cuidado, ocasionando a perda de uma pequena parte das ilustrações. Em 1895 foi realizada uma nova encadernação, mas esta deteriorou-se rapidamente. No final da década de 1920, existiam muitas folhas soltas separadas do manuscrito. Finalmente, em 1953, a obra foi reencadernada em quatro volumes por Roger Powell, que se ocupou pessoalmente de alisar com todo o cuidado algumas páginas que haviam amassado.
No ano 2000, o volume que contém o Evangelho segundo Marcos foi enviado a Camberra, na Austria, para uma exposição dedicada aos manuscritos iluminados. Foi a quarta vez que o Livro de Kells viajou para o estrangeiro a fim de ser exposto. Infelizmente, durante a viagem, o volume sofreu danos menores em sua pigmentação. Supõe-se que as vibrações produzidas pelos motores do avião podem ter sido a causa.


 Reproduções

 

Em 1951, uma editora suiça, a Urs Graf-Verlag Bern, produziu um fac-símile do Livro de Kells. A maioria das páginas foi reproduzida em fotografias em branco e preto. Havia, contudo, quarenta e oito páginas reproduzidas em cores, incluindo todas aquelas com decorações em toda a página.
Em 1974, Thames e Hudson, com autorização do Conselho do Trinity College Dublin, produziram uma edição fac-símile de todas as páginas totalmente ilustradas do manuscrito e uma seção representativa da ornamentação das páginas de texto. Foram também incluídos detalhes ampliados das ilustrações. Todas impressas em cores. As fotografias foram feitas por John Kennedy, Green Studio, Dublin.
Em 1979, as Éditions Facsimilé Lucerne, outra editora suíça, solicitaram autorização para produzir um fac-símile totalmente em cores. A permissão inicialmente foi negada pelos responsáveis do Trinity College, que temiam que o manuscrito sofresse danos durante a operação. Em 1986, depois de desenvolver um processo de um cuidadoso dispositivo de aspiração que permitia posicionar e fotografar as páginas sem ter que tocá-las, o editor obteve finalmente a permissão para produzir a edição fac-símile. Depois de fotografar cada página, era feita uma cópia para comparar atentamente as cores com as do original, para fazer os ajustes que fossem necessários. Em 1990 publicou-se o fac-símile em dois volumes: o fac-símile propriamente dito e um volume de comentários feitos por especialistas. A igreja de Kells (da Igreja da Irlanda), no local do antigo monastério, dispõe de um exemplar. Está também disponível de uma versão em CD-ROM contendo todas as páginas escaneadas, assim como outras informações.


 Descrição

 

O Livro de Kells contém os quatro Evangelhos constitutivos do cristianismo, precedidos de prólogos, resumos e transições entre certas passagens. Está redigido em maiúsculas com um estilo tipográfico tipicamente insular, com tinta preta, vermelha, violeta ou amarela. O manuscrito consta atualmente de 340 folhas em pergaminho, chamadas fólios. A maioria destes fólios era na realidade parte de folhas maiores, os bifólios, que se dobravam em dois para formar dois fólios. Vários destes bifólios são agrupados e costurados, para obterem-se os cadernos. Pode acontecer de um fólio não fazer parte de um bifólio mas seja uma simples folha solta inserida em um caderno.
Estima-se que cerca de trinta fólios foram perdidos, uma vez que em 1621, James Ussher ao examinar a obra contou 344 páginas. As folhas existentes estão agrupadas em trinta e oito cadernos, cada um deles contém de quatro a doze folhas (de dois a seis bifólios); o mais comum é encontrar cadernos de dez folhas. Alguns fólios são folhas únicas. As páginas mais decoradas geralmente são encontradas em folhas soltas. Os fólios tinham linhas traçadas sobre eles, às vezes dos dois lados, para facilitar o trabalho de escrita dos textos pelos monges: os furos feitos com agulha e os traços podem ainda ser vistos em alguns lugares. O pergaminho é de boa qualidade, apesar de ser trabalhado de maneira desigual: algumas folhas têm uma espessura semelhante ao couro, enquanto que outras são muito finas, quase transparentes. O manuscrito tem 33 cm de comprimento por 25 cm de largura, sendo este um tamanho padrão, apesar de estas dimensões serem posteriores ao século XVIII, período em que as folhas tiveram uma pequena redução durante um processo de reencadernação. A área do texto cobre aproximadamente 25 cm de comprimento por 17 cm de largura, e cada página de texto contém entre dezesseis e dezoito linhas. Contudo, o livro parece estar inacabado, na medida em que algumas ilustrações parecem simples esboços.


 Conteúdo

 

No seu estado actual, o Livro de Kells apresenta, depois de alguns textos introdutórios, o texto integral dos Evangelhos segundo Mateus, segundo Marcos e segundo Lucas. Em relação ao Evangelho segundo João, está reproduzido até o versículo 17:13. O restante deste Evangelho, assim como uma parte dos escritos preliminares, são impossíveis de encontrar. Provavelmente perderam-se devido ao roubo do manuscrito no século IX. O que resta dos escritos preliminares faz parte dos fragmentos de listas de nomes hebreus contidos nos Evangelhos, os Breves causae e os Argumenta dos quatro Evangelhos e finalmente as tábuas canónicas de Eusébio de Cesareia. É bastante provável, como no caso dos Evangelhos de Lindisfarne ou do Livro de Durrow, que uma parte dos textos perdidos inclua a carta de São Jerónimo ao Papa Dâmaso I, designada Novum opus (obra nova), na qual Jerónimo justificava a tradução da Bíblia em latim. Pode supor-se também, embora com algumas reservas, que os textos continham a carta de Eusébio, chamada Plures fuisse, onde o teólogo ensina o uso correcto das tábuas canónicas. De todos os evangelhos insulares, apenas o de Lindisfarne contém esta carta.
Existem dois fragmentos de listas contendo nomes hebreus: um deles está no anverso do primeiro fólio e o outro, no vigésimo sexto, está no final dos textos introdutórios do Evangelho segundo João. O primeiro fragmento contém o final da lista destinada ao Evangelho segundo Mateus, tendo em conta que o início da lista devia ocupar outras duas folhas, que hoje estão desaparecidas. O segundo fragmento mostra a quarta parte da lista para o Evangelho segundo Lucas; certamente as três quartas partes restantes deviam ocupar outras três folhas. A estrutura do caderno em questão torna altamente improvável a ideia de poderem estar faltando três folhas entre os fólios 26 e 27, o que induz a pensar que o segundo fragmento não está no seu local original. Não existem vestígios das listas dos Evangelhos de Marcos e João.



Ao primeiro fragmento de lista seguem-se as tábuas canónicas de Eusébio de Cesareia. Estas tábuas, anteriores à tradução da Bíblia em língua latina (a Vulgata), foram criadas para comparar os quatro Evangelhos. Eusébio procedeu à divisão dos Evangelhos em capítulos e criou as tábuas que deviam permitir ao leitor situar um dado episódio da vida de Cristo em cada um dos quatro textos. Tornou-se hábito a inclusão das tábuas canónicas nos textos preliminares da maioria das cópias medievais da Vulgata. As tábuas do Livro de Kells revelaram-se inúteis visto que o amanuense as condensou de tal forma que se tornaram um amontoado confuso. Além disso, os números dos capítulos nunca foram colocados nas margens do texto, tornando assim impossível de se encontrar as respectivas secções às quais as tábuas fazem referência. As razões deste esquecimento permanecem obscuras, permitindo-nos colocar duas hipóteses: ou os monges podem ter decidido não numerar os capítulos até que as ilustrações estivessem terminadas, acabando isso por ser adiado sine die, ou a omissão da numeração poderá ter sido deliberada com o intuito da não alterar a beleza da obra.



As Breves causae e os Argumenta pertencem a uma tradição manuscrita anterior à Vulgata. As Breves causae são, de facto, resumos de antigas traduções em latim dos Evangelhos e estão divididas em capítulos numerados. Esta numeração, como no caso das tábuas canónicas, não foi feita no corpo do manuscrito. Trata-se desta vez duma decisão bastante compreensível, na medida em que os números dos capítulos correspondentes a velhas traduções foram difíceis de harmonizar com os textos da Vulgata. No caso dos Argumenta, trata-se de coleções de lendas dedicadas aos quatro evangelistas. O conjunto destes escritos está ordenado duma forma estranha: em primeiro lugar, encontram-se as Breves causae e os Argumenta sobre Mateus, seguidos dos de Marcos. Chegam então, de maneira bastante inesperada, os Argumenta de Lucas e joão, após a continuação das Breves causae destes dois apóstolos. Esta ordem, pouco usual, é a mesma da adoptada no Livro de Durrow. Em outros manuscritos insulares, como nos Evangelhos de Lindisfarne, o Livro de Armagh ou os Evangelhos de Echternach, cada Evangelho é tratado separadamente e é precedido por todos os escritos introdutórios. Esta repetição fiel do esquema do Livro de Durrow levou o pesquisador T. K. Abbot a concluir que o amanuense de Kells devia ter nas suas mãos o manuscrito em questão, ou pelo menos um esquema comum.


 Texto e escrita

 

O Livro de Kells contém o texto dos quatro Evangelhos em latim segundo a Vulgata, sem ser uma cópia exata desta última: são encontradas numerosas variantes com relação à Vulgata, principalmente quando são utilizadas traduções latinas mais antigas ao invés do texto de São Jerônimo. Estas variantes são encontradas sistematicamente em todos os manuscritos medievais da Grã-Bretanha e apresentam diferenças de uma obra para a outra. Sem dúvida, os monges, pela falta de disporem de um exemplar preexistente, deviam trabalhar de memória.



O manuscrito está escrito em letras maiúsculas, exceto algumas minúsculas, maioritariamente as c ou as s. A universitária estado-unidense Françoise Henry identificou no mínimo três amanuenses que contribuíram com a obra e os chamou Mão A, Mão B e Mão C.
  • A Mão A criou principalmente os fólios de 1 a 19 e do 276 ao 289, antes de retomar seu trabalho do fólio 307 até o fim do manuscrito. O amanuense Mão A utiliza com freqüência uma tinta de cor marrom muito comum na Europa e escreve entre dezoito e dezenove linhas por página.
  • A Mão B é reconhecida desde o fólio 19 até o 26 e do 124 até o 128; tem mais tendência a utilizar letras minúsculas, prefere uma tinta vermelha, violeta ou preta e escreve um número mais variável de linhas em cada página.
  • À Mão C, finalmente, é atribuído o restante do manuscrito, tendo ela contribuído para a obra de uma maneira bastante dispersa: tem tendência a usar mais minúsculas que Mão A; utiliza a mesma tinta marrom e escreve quase sempre dezessete linhas por página.

     Erros

     

    Existem várias diferenças entre o texto do Livro de Kells e o Evangelho normalmente aceito, por exemplo:
    • Na genealogia de Jesus, que começa em Lucas 3:23, Kells nomeia erroneamente um antepassado adicional.
    • Em Mateus 10:34b, deveria ter sido colocado non veni pacem mittere, sed gladium (não vim trazer paz, mas espada). Ao invés de gladium que significa espada, no manuscrito de Kells foi escrito gaudium que significa alegria; sendo assim, a tradução fica não vim trazer paz, mas alegria. Provavel distração do amanuense.

       Decoração

       

      O manuscrito contém páginas totalmente repletas de motivos ornamentais de uma complexidade extraordinária, assim como pequenas ilustrações que acompanham as páginas de texto. O Livro de Kells utiliza uma rica variação de cores, com violeta, vermelho, rosa, verde ou amarelo, entre as mais usadas. A título comparativo, nas ilustrações do Livro de Durrow foram empregadas apenas quatro cores. De forma totalmente surpreendente e apesar da importância que os monges quiseram dar à obra, não fizeram uso de folhas de ouro ou de prata para adornar o manuscrito. Os pigmentos necessários para as ilustrações foram importados de todos os cantos da Europa e foram objeto de aprofundados estudos: o preto obteve-se das velas, o vermelho vivo do realgar, o amarelo do ouro-pigmento (ou orpiment, um sulfeto de arsênio amarelo) e o verde esmeralda do pó de malaquita. O caríssimo lápis-lazúli, de cor azul, veio da região do Afeganistão.
      As iluminuras são mais ricas e numerosas que em qualquer outro manuscrito bíblico da Grã-Bretanha. Há dez páginas repletas de iluminuras que sobreviveram à prova do tempo, além dos retratos de evangelistas, três representações dos quatro símbolos dos evangelistas, uma página cujos motivos recordam uma tapeçaria artística, uma figura de Maria e o Menino Jesus, outra figura de Cristo no trono e finalmente duas últimas imagens consagradas à prisão e à tentação de Cristo. Existem ainda outras treze páginas cheias de iluminuras acompanhadas de um curto texto: em particular, é o caso do início de cada Evangelho. Oito das dez páginas dedicadas às tábuas canônicas de Eusébio de Cesareia estão também ricamente ilustradas. Além de todas estas páginas, contabiliza-se no conjunto da obra um grande número de decorações menores ou de iniciais iluminadas.
      O manuscrito, em seu estado atual, começa com um fragmento da lista de nomes hebreus, que ocupa a primeira coluna do anverso do fólio 1. A outra coluna deste fólio está ocupada por uma iluminura dos quatro símbolos dos evangelistas, hoje levemente apagada. A iluminura está orientada de tal maneira que o livro deve ser girado 90 graus para que ela possa ser examinada. O tema dos quatro símbolos dos evangelistas está presente do início ao fim da obra: quase sempre são representados juntos, com o objetivo de destacar e afirmar a unidade da mensagem dos quatro evangelhos.



      A unidade dos Evangelhos fica ainda mais realçada pela decoração das tábuas canônicas de Eusébio de Cesaréia. Estas tábuas foram criadas para estabelecer a unidade dos quatro textos, permitindo ao leitor identificar as passagens equivalentes em cada Evangelho e normalmente ocupam doze páginas. Os amanuenses do Livro de Kells já reservaram doze páginas com esta finalidade (fólios 1 a 7) mas, por motivos desconhecidos, acabaram por condensar as tábuas em dez páginas somente, deixando assim duas páginas em branco (os fólios 6 e 7). Este reajuste deixou as tábuas confusas e inutilizáveis. A decoração das oito primeiras páginas das tábuas canônicas parece fortemente influenciada por manuscritos mais antigos da região mediterrânea, onde o costume era inserir as tábuas no desenho de um arco. Os monges que trabalharam no Livro de Kells empregaram este estilo, mas adicionando a sua própria idiossincrasia: os arcos não estão tratados como elementos arquitetônicos mas como motivos geométricos, decorados com motivos ornamentais tipicamente insulares. Os quatro símbolos dos evangelistas ocupam o espaço existente acima e abaixo dos arcos. As duas últimas páginas representam as tábuas em uma grade, o que é mais conforme a tradição dos manuscritos insulares, como no Livro de Durrow.
      O restante do livro, tirando as tábuas canônicas, divide-se em seções, estando cada início de seção indicado por iluminuras e páginas cheias de texto decorado. Em especial, cada um dos Evangelhos é introduzido com iluminuras meticulosamente preparadas. Os textos preliminares são tratados como sendo uma seção, recebendo então uma decoração suntuosa. Além dos Evangelhos e dos textos preliminares, o segundo início do Evangelho segundo Mateus tem direito à sua própria decoração introdutória.



      Os textos preliminares são introduzidos por uma imagem em ícone de Maria e o Menino Jesus (fólio 7º). Esta iluminura é a representação mais antiga da Virgem dentre todos os manuscritos do mundo ocidental. Maria aparece em uma rara mescla entre uma pose de frente e de três quartos. O estilo iconográfico da iluminura poderia originar-se de um modelo ortodoxo ou copta.
      A iluminura de Maria e o Menino Jesus está na primeira página de texto e é adequada para introduzir as Breves causae de Mateus, que começa por um Nativitas Christi in Bethlem (o nascimento de Cristo em Belém). A primeira página das Breves causae (fólio 8º) está decorada e rodeada de uma elegante moldura. A combinação entre a iluminura posicionada à esquerda e o texto à direita constitui, deste modo, uma introdução muito viva e colorida dos textos preliminares. As primeiras linhas das outras seções dos textos preliminares foram igualmente objeto de cuidados particulares, mas sem alcançarem o mesmo nível que o início das Breves causae de Mateus.


      O Livro de Kells foi criado para que cada Evangelho dispusesse de decorações introdutórias altamente elaboradas. Originalmente, cada um dos quatro textos era precedido de uma iluminura de página inteira que continha os quatro símbolos dos evangelistas, seguida de uma página em branco. Depois seguia-se, antes das primeiras linhas ricamente decoradas do texto, o retrato do evangelista correspondente. O Evangelho segundo Mateus conservou o retrato de seu evangelista (fólio 28º) e sua página de símbolos evangélicos (veja mais acima o fólio 27º). No Evangelho segundo Marcos falta o retrato do evangelista, mas sua página de símbolos permaneceu até os nossos dias (fólio 129º). Infelizmente, no Evangelho segundo Lucas não conseguiu-se preservar nenhum dos dois. Finalmente, no Evangelho segundo João, assim como no de Mateus, conservou-se o retrato de João (veja aqui ao lado o fólio 291º) e sua página de símbolos (fólio 290º). Provavelmente, as páginas que faltaram existiram, mas foram perdidas. Em qualquer caso, o uso sistemático de todos os símbolos dos evangelistas no início de cada Evangelho é tremendamente surpreendente, demonstrando o forte empenho em querer manter a unidade da mensagem evangélica.



      A decoração das primeiras palavras de cada Evangelho é primorosamente trabalhada. As páginas correspondentes, de fato, parecem tapetes decorados: as ilustrações são tão elaboradas que o texto torna-se ilegível. A página de início do Evangelho segundo Mateus, é um exemplo: só tem duas palavras, Liber generationis (o livro da geração). O lib de Liber transformou-se em um monograma gigante que domina toda a página. O er de Liber está representado por um entrelaçado de ornamentos com o b do monograma lib. A palavra Generationis estende-se por três linhas diferentes inserindo-se em uma moldura sofisticada à direita inferior da página. Todo o conjunto está agrupado por um elegante ribete. Este ribete e as mesmas letras estão ainda decoradas com espirais e arabescos, muitos deles zoomorfos. As primeiras palavras do Evangelho de Marcos, Initium evangelii (Início do Evangelho, veja ao lado) e do de João, In principio erat verbum (No princípio era o Verbo), foram objeto de tratamentos semelhantes. Estas ornamentações, ainda que particularmente mais trabalhadas no Livro de Kells, são encontradas em todos os evangeliários das ilhas britânicas.
      O Evangelho segundo Mateus, como manda a norma, começa com uma genealogia de Jesus: o relato propriamente dito da vida de Cristo não se inicia até o versículo 1:18, que é considerado, por este motivo, como o segundo início deste Evangelho. O Livro de Kells trata este segundo início com uma ênfase digna de um texto separado. Esta parte do Evangelho de Mateus começa pela palavra Cristo, que os manuscritos medievais tinham por costume abreviar com as duas letras gregas Qui e Ró.


      Este monograma Qui Ró, mais conhecido como monograma da Encarnação, foi objeto de um cuidado especial no Livro de Kells, até invadir o fólio 34º em sua totalidade. A letra Qui domina a página, com um de seus braços estendendo-se por uma grande superfície da folha. A letra está enroscada sob as formas de Qui. Ambas as letras estão divididas em compartimentos luxuosamente decorados com arabescos e outros motivos. No fundo do desenho dezenas de ilustrações entrelaçam-se umas nas outras. Entre esta massa de ornamentos ocultam-se toda classe de animais, inclusive insetos. Finalmente, de um dos braços de Qui surgem três anjos. Esta iluminura, no zênite de uma tradição iniciada com o Livro de Durrow, mostra-se como a mais formidável e mais cuidada dos monogramas da Encarnação dentre todos os manuscritos bíblicos das ilhas britânicas. Segundo Claude Médiavilla, especialista em caligrafia, o monograma da Encarnação seria provavelmente a peça de iluminura mais complexa alguma vez produzida […] Exigiu muitas semanas, talvez meses, de um trabalho árduo para o corpo e a visão.
      O livro de Kells contém outras duas iluminuras de página inteira, que ilustram episódios da Paixão de Cristo. A primeira (fólio 114º) está dedicada à sua prisão: Jesus, imobilizado por dois personagens claramente menores que ele, está representado sob um arco estilizado. A segunda iluminura (fólio 202º) está consagrada à Tentação de Cristo: Jesus, de quem não se vê mais da cintura para cima, está no topo do Templo, com uma multidão à sua direita, que provavelmente representa seus discípulos. À sua esquerda e abaixo dele está a figura tenebrosa de Satanás, enquanto que dois anjos voam no céu.


      A decoração da obra não se limita às passagens principais. Todas as páginas, com exceção de duas delas, contêm um mínimo de ornamentos. Algumas delas trazem iniciais decoradas, com pequenos personagens humanos ou zoomorfos. É a arte dos entrelaçamentos, de figuras de animais e de labirintos microscópicos inspirados, entre outros, na tradição celta. O texto das Beatitudes no Evangelho de Mateus, por exemplo, (fólio 40º) é acompanhado por todo o comprimento da margem de uma grande iluminura, na qual as letras B que iniciam cada linha entrelaçam-se como uma corrente. Da mesma maneira, a genealogia de Cristo no Evangelho de Lucas (fólio 200º) aproveita a repetição da palavra qui no início de cada linha para desenhar uma corrente. À direita das páginas são representados pequenos animais para preencher os vazios ocasionados pelas linhas que desviam-se de sua trajetória, ou simplesmente para ocupar o espaço à direita das linhas. Não existe um motivo idêntico a outro e nenhum manuscrito anterior pode rivalizar com tal profusão de ornamentos.



      Todas as ilustrações são de grande qualidade e sua complexidade segue sendo objeto de fascinação. O exame de uma delas, que não ocupa mais que uns 2,5 cm², permitiu contabilizar não menos de 158 entrelaçamentos de faixas brancas orladas de preto de cada lado. A sutileza de algumas filigranas não pode ser apreciada sem a ajuda de lentes de aumento e isto levando-se em conta que não se podia dispor de lentes de amplificação necessária até vários séculos depois da realização da obra. Estas complicadas operações de arabescos foram realizadas do mesmo modo na mesma época sobre metais ou pedras. Desde sua gradual redescoberta a partir do sécilo XIX, esses desenhos têm tido também uma permanente popularidade: muitos destes motivos são usados na atualidade, por exemplo, em jóias ou em tatuagens.


      Uso

       

      Originalmente, o Livro de Kells, tinha uma intenção sacramental e não educativa. Um evangeliário tão grande e luxuoso devia ser deixado em cima do altar da igreja e usado apenas para ler passagens dos Evangelhos na missa. Ainda que seja provável que o sacerdote oficiante não leria realmente o manuscrito, mas que recitaria de memória. A este respeito, é interessante recordar que o roubo da obra no século XI, segundo os Anais de Ulster, aconteceu na sacristia, lugar onde as taças e os outros acessórios litúrgicos estavam guardados, antes mesmo de irem para a biblioteca da abadia. A elaboração do livro parece ter integrado esta dimensão, fazendo do manuscrito um objeto muito belo, porém muito pouco prático. Há numerosos erros no texto que não foram corrigidos e outros indícios dão testemunho do frágil compromisso com a exatidão do conteúdo: linhas demasiadas grandes freqüentemente eram completadas nos espaços livres da linha de cima ou de baixo e os números de capítulo, necessários para poder usar as tábuas canônicas, não foram colocados nas margens das páginas. Em geral, nada foi feito que pudesse perturbar a beleza formal das páginas: priorizou-se a estética, ao invés da utilidade.


       Cultura moderna

       

      Um filme de animação intitulado Brendan and the Secret of Kells, cujo tema central é o Livro de Kells, está sendo dirigido por Tomm Moore, baseado no roteiro do próprio Tomm Moore e Fabrice Ziolkowski. Esta co-produção entre República da Irlanda, Canadá e Bélgica foi lançado em 2008.




      BAIXE GRATUITAMENTE O FILME:

      O SEGREDO DE KELLS:


      http://rarosdaweb.blogspot.com/2010/12/download-o-segredo-de-kells-animacao.html




      BAIXE GRATUITAMENTE O LIVRO:


      http://www.4shared.com/file/qG4EDgZF/O_Livro_de_Kells__Texto_para_f.html




      Fonte de pesquisas:


      http://pt.wikipedia.org/wiki/Livro_de_Kells

      http://www.territorioscuola.com/wikipedia/pt.wikipedia.php?title=Livro_de_Kells


      http://www.4shared.com/file/qG4EDgZF/O_Livro_de_Kells__Texto_para_f.html


      http://rarosdaweb.blogspot.com/search/label/Anima%C3%A7%C3%A3o

      sábado, 15 de outubro de 2011

      A amizade do futuro




      O quanto o homem está próximo de suas máquinas e longe da humanidade?
      Em breve teremos amigos artificiais, ciborgues e novas descobertas tecnológicas para tentar preencher o vazio de emoção do coração humano.
      A ligação Homem-Máquina já transpôs o crível! Muitos não vivem sem o celular, sem o notebook, sem o tablet, o micro-ondas, a TV e assim por diante! Ah e também sem as redes sociais como o Facebook. Lembro que li em algum lugar, que alguém digitou no Facebook o seguinte: "- Sinto-me só!" e 50.000 pessoas responderam "- Eu também!". Vantagens e desvantagens do progresso tecnológico!
      As consequências de tal progesso acelerado é a total ausência de ética e moralidade, já que infelizmente o progresso espiritual raramente acompanha o intelectual. Nada contra a velocidade do progresso, mas que ele seja regido pela ética já que, e temos fatos na História da Humanidade,  Ciência sem Ética costuma ser receita para desastres apocalípticos.

      Fica a pergunta:
      Onde vamos parar?


      Sou de um tempo (não muito distante rsrsrs), em que o livro era objeto de desejo e compartilhado por todos, em casa solitáriamente, ou em grupos de leitura, as crianças construiam fortes e casas de pedaços de madeira e folhas, brincavamos de construir listas de coisas a partir de uma letra, pais, avós e filhos contavam histórias de "medo" como constumavámos dizer...
      Bolinhas de gude, pipas, pular elástico, fazer cama-de-gato, saci, estátua, fazer maquetes de cidades com barro mesmo! Que saudade...hoje as crianças estão condicionadas ao sem sabor e cor, o estilo do novo século! Com muita informação necessária e preciosa, mas sem paixão! É só observar a arquitetura atual e a antiga, gosto de olhar as casas e prédios das cidades e como é triste ver que reduzimos nossos lares a "caixas de cimento e pedra" sem estilo e sem alma e dentro deste "complexo familiar" estão o pai no computador, os filhos nos games eletrónicos e a mãe na TV vendo novela...
      É uma pena que para usufruirmos de tais maravilhas, deixemos de lado o que realmente importa: a aquisição em conjunto de experiência e compartilhamento de momentos únicos e mémoráveis com nossos amados e trocamos estes tesouros por experiências solitárias que nos isolam cada vez mais de toda a Humanidade!

      Para encerrar comento um fato que vi no telejornal à uns dias:
      Uma mãe "conversando" com os filhos pelo Facebook, até aí nada de extraordinário, o problema é que estavam TODOS em CASA e ainda assim achavam melhor conversar pelo computador.
      É um quadro assustador o novo estado das famílias e é por essa desagregação familiar que a Sociedade está desmoronando.

      Será que um Ipad, um tablet, um Notebook ou uma filmadora mais modernos trarão as respostas para a recuperação do amor e valorização da Humanidade e não de suas produções tecnológicas?


      Ariadne


      quinta-feira, 9 de dezembro de 2010

      Ser Vegetariano é ser Coerente





      Um tema que me tem preocupado, com o actual cenário de crise internacional, prende-se com as nossas opções de vida e qual o sentido que imprimimos às mesmas. Assim sendo, a minha reflexão para este artigo prende-se com a opção vegetariana e qual a sua relação no conceito de Responsabilidade Social, que riscos e que oportunidades. Qual o impacto do vegetarianismo no mundo socioeconómico e será esta a melhor opção?
      Este tema ocorreu-me ao ler um dos último livros de Seth Godin, guru de marketing (“Torne-se Pequeno E Pense Em Grande”, Editorial Presença, 2007, versão original “Small is the New Big”, http://www.sethgodin.com/smallisthenewbig ), onde argumenta que “se toda a gente passasse a conduzir híbridos, basicamente seríamos independentes do petróleo (…), e as maiores ameaças para a atmosfera desapareciam (asma, poluição das cidades, etc)”. Mas a grande questão de Godin prende-se com o facto de que se é mesmo uma boa opção porque não se aplica? Seria esse um verdadeiro acto de puro altruísmo ou mera atitude de responsabilidade social para um mundo que procuramos ver melhor, direccionados àqueles que serão a continuidade da raça humana? E reflectindo, considero que essa questão aplica-se, também, ao vegetarianismo. Porque não opções mais saudáveis, quer do ponto de vista de saúde, ambiente, economia e social, já comprovadas como tal para melhorar o mundo?
      O facto é que uma opção vegetariana global seria, eventualmente, desastrosa para a economia, da forma como a vemos hoje, pois haveria novas oportunidades a gerir e riscos a eliminar como sejam hábitos instituídos (consumo de carne e peixe, por exemplo, e sucedâneos como peles, caça e pesca) e novas situações a aprender (alimentação). Mas mais que tudo, teríamos que descobrir algo sobre nós e sobre o mundo. E será que estamos dispostos a essa descoberta e ver esse novo mundo? No mundo tecnológico em que nos inserimos, seguramente que não nos podemos queixar de falta de informação pois somos bombardeados por correio, seja físico ou virtual (internet). O que impede de darmos esse passo?
      Se tal cenário se colocasse, tanto indivíduos como organizações teriam que redesenhar estratégias operacionais e de marketing. É certo que haveria actividades que se afundariam, mas também surgiriam novos nichos de mercado, novos comportamentos (menos violentos, seguramente) e novas formas de diálogo (entre os diferentes povos, princípio já há muito defendido por diversas personalidades internacionais). Seriam redesenhadas novas tendências e comportamentos, exploradas novas formas de criar, e gerar, vida e os excessos de cereais passariam a ter outro sentido útil. A vida, e o respeito pela mesma, seria harmonizado e o respeito pelo próximo, do ponto de vista social, passaria a ter a devida importância. O facto notório é a aversão natural (quase patológica) das pessoas à mudança, sejam elas sobre grandes ou pequenas coisas, mesmo que resultem no seu próprio bem-estar. A aversão à mudança é uma temática que nós, os vegetarianos, já sentimos e ultrapassamos e hoje, mais assentes nas nossas opções, verificamos que é esse o obstáculo ao crescimento e maturidade sobre opções alimentares.
      Mas porquê o vegetarianismo relacionado com Responsabilidade Social? Porque a opção vegetariana merece ser ponderada como uma possibilidade séria para o planeta, considerando o argumento ecológico, tendo em consideração que:
      • os vegetais fornecem 10 vezes mais proteínas por hectare do que a carne, potenciando menor desgaste do terreno necessário para alimentar os animais de exploração.
      • a exploração agrícola consome menos água do que a exploração animal, contribuindo ainda para a melhoria da camada do ozono, efeitos de estufa e aquecimento global.
      Só para registo, para ½ quilo de carne é necessário 50 vezes mais água do que para o equivalente em trigo, para além de que a criação animal tem uma quota-parte significativa de responsabilidade nos níveis de poluição dos recursos hídricos.
      De acordo com o australiano Peter Albert David Singer ( http://www.utilitarian.net/singer ), filósofo e professor a leccionar nos EUA Ética e Valores Humanos, vegetariano por opção, num dos seus ensaios filosóficos mais conhecidos, combate a injustiça de algumas pessoas a viverem em abundância enquanto outras morrem de fome e alerta para o facto que “a comida desperdiçada na produção de animais nas nações ricas seria suficiente, se fosse adequadamente distribuída, daria para pôr fim tanto à fome como à subnutrição em todo o mundo”. Autor de livros como “Libertação Animal” , “How Are We to Live?: Ethic in an Age of Self-Interest” (1995) e “One World: The Ethics of Globalization” (2002), Singer tornou-se um grande defensor dos direitos dos animais e apoiante da dieta vegetariana.
      Já as americanas Kneidel, Sally (bióloga doutorada e jornalista) e sua filha Sara Kate (activista, http://veggierevolution.blogspot.com), co-autoras do livro Revolução Vegetariana (título original “Veggie Revolution: Smart Choices for a Healthy Body and a Healthy Planet”, 2005 Outubro, ISBN 978.155.591.5407 da Fulcrum Publishing, EUA), analisam o impacto ambiental e socioeconómico global de uma opção vegetariana, considerando que se trata de um regime alimentar ancestral, experimentado e desenvolvido pelas diversas civilizações mas “engolida” por lobbies económicos e indústrias alimentares não vegetarianas. No livro de ambas, mãe e filha confrontam os problemas modernos, direccionados ao universo da indústria de alimentação americana, como sendo hábitos pouco recomendáveis, tanto do ponto de vista nutricional como de sustentabilidade ambiental, económica e social. A escolha alimentar certa para um corpo saudável, subtítulo do livro, é um tema que pela sua relevância, causa controvérsia nos meios diversos por ser um indiciador de redução de número de doenças humanas e potencial para uma população mais activa e mais participante, tanto no ponto de vista social como ambiental. No seu desenvolvimento, defendem que as actuais opções alimentares não vegetarianas estão a conduzir o globo a níveis de saturação preocupantes e os recursos esgotam-se a uma velocidade acelerada, sem alternativas. O livro enumera diversos recursos considerados fundamentais na produção de alimentação não vegetariana, os seus efeitos poluentes e consequências bem como indica soluções possíveis não poluentes e melhores para o ambiente, em geral. Em conclusão, as Kneidel defendem que para uma preservação do natural meio ambiente, Homens e Animais deverão regressar aos princípios de boa convivência e a práticas mais harmoniosas de exploração. As lições retiradas da natureza do Homem e seus hábitos alimentares em relação à ordem normal das coisas, estão a esgotar os recursos naturais do solo.
      Assim sendo, e uma vez que caminhamos a passos largos para uma exploração até à exaustão dos recursos naturais do Globo e considerando as vantagens diversas de uma alimentação equilibrada, onde o consumo de carne é subtraído, retomando à questão de Seth Godin, se a solução é boa porque não a aplicamos? Ou seja, se a opção vegetariana resulta como uma decisão equilibrada e socialmente mais responsável, globalmente, porque não a considerar visto que os riscos socioeconómicos serão contornados com as novas oportunidades criadas de mercado, estes mais equilibrados e claramente mais saudáveis para todos? Seria até possível zerar o índice (reduzir à taxa zero) de população mundial com fome e de doenças (cardíacas, colesterol, entre outras). Todos, em conjunto, deveríamos repensar as nossas opções ponderando o peso futuro das mesmas, no imediato.
      Deixo aqui a questão que também me preocupa porque procuro um mundo melhor, para todos e partilho convosco o pensamento de alguém que sempre lutou pela paz e auxílio aos menos favorecidos, Madre Teresa de Calcutá, que um dia disse “sei que o que fazemos não é mais que uma gota no oceano, mas se essa gota não estiver no oceano, fará lá falta”, mas nós sabemos que o mundo depende do movimento dos mares. Agora, depende de nós por isso faça a sua boa opção de vida, com consciência e com responsabilidade social, invista no futuro e goze da oportunidade de uma vida melhor.





      Filosofia Vegan




      O vegano defende que o homem deve viver autonomamente, sem depender de outras espécies animais.
      Por outro lado, o veganismo é uma filosofia e prática de vida e compaixão. Este caminho tem sido seguido por algumas pessoas em todos os tempos da historia da humanidade.

      Só recentemente a palavra vegan (VEEGN) foi utilizada para distinguir os vegan dos vegetarianos, e o movimento vegano acabou por se tornar numa sociedade.
      A primeira sociedade vegana foi organizada e fundada em 1944, em Inglaterra. E em 1960, H. Jay Dinshah, fundou a sociedade vegan Americana. Desde então mais de 50 sociedades foram criadas em todo o mundo.
      Veganismo é muito mais do que uma questão de dieta. É, sobretudo, uma forma de vida que exclui todas as formas de exploração e crueldade contra o reino animal. Isto implica que um vegano se limite ao uso de apenas produtos derivados do mundo vegetal, não consumindo, por isso, leite e derivados, ovos e mel.
      Os veganos escolhem viver de uma forma mais humana e compassiva em relação aos animais, são contra a morte e todo o tipo de exploração animal. Não usam produtos derivados de animais, como sejam a lã, couro, peles, roupas ou móveis, artesanatos, sabonetes ou cosméticos que contenham produtos de origem animal, nenhuma escova feita de cabelos, ou travesseiro de penas etc.
      Os veganos não pescam, não caçam, e não aprovam o confinamento de animais nos circos ou zoológicos, rodeios ou touradas.
      O veganismo lembra ao Homem a sua responsabilidade pelos recursos naturais e faz com que ele procure formas de manter o solo e o reino vegetal saudável, assim como o uso correcto dos materiais da terra.
      Um vegano evita submeter-se a vacinação ou a soro feito de animais. Sempre que possível, e dentro do razoável, evita ainda o uso de medicamentos que foram testados em animais.
      O veganismo é uma filosofia de vida, um caminho que procura a harmonia com o meio ambiente.
      O vegano, em geral, também se interessa em ter um excelente padrão físico, emocional, mental e espiritual.

      Talvez esta lista pareça à primeira vista difícil de seguir, mas serve principalmente para mostrar como é grande e extensa a lista de produtos ou substâncias derivadas de animais que normalmente usamos diariamente ao longo de nossas vidas.
      Principalmente porque o mercado de vendas destes produtos só pensa em aumentar os seus lucros, independente da exploração animal ou dos efeitos nefastos que isso traga ao meio ambiente ou à saúde a médio prazo.
      O curioso é que já existem muitas alternativas, mais humanas, para qualquer tipo de produtos de origem animal. E no entanto são poucas as empresas que as adoptam. Na América do Norte e na Europa tem crescido o comércio de produtos não derivados de animal, devido ao aumento da consciência do respeito ao meio ambiente e a compaixão por todas as formas de vida.

      Embora a dieta vegana não contenha vitamina D, os seus seguidores podem consegui-la com a exposição ao sol das mãos e da face durante quinze minutos, cerca de três vezes por semana. Os outros nutrientes mais difíceis de conseguir seguindo uma dieta sem produtos animais, como a vitamina B12, podem facilmente ser obtidos ingerindo alimentos enriquecidos, ou, em último caso, recorrendo a suplementos vitamínicos.


      http://www.centrovegetariano.org/











      Vegetarianismo ao longo  da História



      Na Pré-História
      O vegetarianismo surgiu há cerca de 5 milhões de anos atrás. O nosso antepassado mais antigo, o Australopithecus Anamensis, alimentava-se de frutas, folhas e sementes, vivendo em perfeita harmonia com os animais mais pequenos, que poderia facilmente apanhar para se alimentar. Mas a índole destes hominídeos era pacífica e assim continuou até ao Australopithecus Boesei (existiu há cerca de 2,4 - 1 milhão de anos).
      Com o domínio do fogo e o desenvolvimento das armas, o Homo Neanderthalensis, nosso antepassado mais recente (127.000 - 30.000 anos), caçava, em grupos de 10 a 15, animais de grande porte como os mamutes e outros mais pequenos como os veados, dos quais tudo era meticulosamente aproveitado. Mais tarde, as populações humanas foram criando culturas de vegetais fixas, que começaram a atrair animais como porcos selvagens, ovelhas, cães, cabras, aves, ratos e pequenos felinos, que foram sendo domesticados. Alguns animais começaram a ser mortos para consumo. Foi então que o Homem se tornou sedentário e começou a encarar os animais como alimentos.

      Nas civilizações antigas
      Por volta de 3200 AC, o vegetarianismo foi adoptado no Egipto por grupos religiosos, que acreditavam que a abstinência de carne criava um poder kármico que facilitava a reencarnação.
      Na China e Japão Antigos (século III, AC), o clima e os terrenos eram propícios à prática do vegetarianismo. O primeiro profeta-rei chinês, Fu Xi, era vegetariano e ensinava às pessoas a arte do cultivo, as propriedades medicinais das ervas e o aproveitamento de plantações para roupas e utensílios. Gishi-wajin-den, um livro de história da época, escrito na China, relata que no Japão não existiam vacas, cavalos, tigres ou cabras e que os povos viviam das plantações de arroz, do peixe e dos crustáceos que apanhavam. Muitos anos mais tarde, com a chegada do Budismo, a proibição da caça e da pesca foi bem recebida pelas populações japonesas.
      Na Índia, animais como as vacas e macacos foram adorados ao longo dos anos por simbolizarem a encarnação de divindades. O rei indiano Asoka, que reinou entre 264-232 AC, converteu-se ao Budismo, chocado com os horrores das batalhas. Ele proibiu os sacrifícios animais e o seu reino tornou-se vegetariano. A Índia, ligada ao Budismo e Hinduísmo, religiões que sempre enfatizaram o respeito pelos seres vivos, considerava os cereais e os frutos como a melhor forma (mais equilibrada) de alimentar a população. Juntamente com estas práticas religiosas, certos exercícios, como o Yoga, associaram-se ao não consumo de carne, para alcançar a harmonia e ascender a níveis espirituais superiores.
      Para os povos celtas e aztecas, intimamente ligados à natureza, a carne era reservada para grandes ocasiões: as festas que serviam para estreitar os laços sociais e ligar o mundo humano ao dos deuses pagãos. De resto, quando não estava ligado ao sacrifício, o consumo de carne dependia da caça. Apenas a caça escapava à lógica do sacrifício, mas no sistema de valores da cultura celta era uma actividade marginal.

      Na cultura grega e romana
      A ideologia alimentar grega e romana foi fundada sobre os valores do trigo, da vinha e da oliveira. Este modelo esteve frequentemente ligado à ideia de frugalidade: o pão, o vinho e o azeite (aos quais eram acrescentados os figos e o mel) eram elevados à categoria de símbolos de uma vida simples, de uma pobreza digna, feita de trabalho duro e de satisfações singelas. Na época, estas imagens eram a proposta alternativa dos gregos ao luxo e à decadência do povo persa, conforme mostram os textos clássicos. A proeminência do pão na cultura antiga era também decorrente da primitiva ciência dietética, que colocava o pão no topo da escala de nutrição. Os médicos gregos e latinos viam no pão o equilíbrio perfeito entre os “componentes” quente e frio, seco e húmido, conforme os ensinamentos de Hipócrates. Em contraste, o consumo da carne foi sempre problemático. Imagem do luxo, da gula, da festa, do privilégio social, a carne não era considerada pelas civilizações antigas do Mediterrâneo como um bem tão essencial quanto os produtos da terra: o seu preço não era sujeito a um controlo político como eram os cereais. Em certas épocas, a venda de carne chegava a ser proibida ao público.
      O matemático e filósofo grego Pitágoras e o filósofo romano Platão advogavam a não crueldade para com os animais. Eles verificaram que as vantagens de um regime vegetariano eram imensas e que este regime era a chave para a coexistência pacífica entre humanos e não humanos, focando que o abate de animais para consumo embrutecia a alma das pessoas. Os argumentos de Pitágoras a favor de uma dieta sem carne apresentavam três pontos: veneração religiosa, saúde física e responsabilidade ecológica. Estas razões continuam a ser citadas hoje em dia por aqueles que preferem levar uma vida mais responsável.
      Os Essénios foram um antigo povo judeu, que viveu durante o segundo século AC, e reagiram ao excessivo abate de animais que eram feitos muitas vezes num só dia. Acabaram por ser perseguidos e mortos pelos romanos.

      No Cristianismo
      O Cristianismo primitivo, com raízes na tradição judaica, viu o vegetarianismo como um jejum modificado para purificar o corpo. Tertuliano (155-255 DC), Clemente de Alexandria (150-215 DC) e João Crisóstomo (347-407 DC) ensinaram que evitar a carne era uma maneira de aumentar a disciplina e a força de vontade necessárias para resistir às tentações. Isto tornou as restrições dietéticas, como o vegetarianismo, muito comuns no comportamento cristão da época. E estas crenças foram transmitidas ao longo dos anos de uma forma ou de outra - por exemplo, a proibição de carne (excepto peixe) da Igreja Católica Romana nas sextas-feiras, durante a Quaresma.
      Com o estabelecimento do Cristianismo, surgiram ideias de supremacia humana sobre todas as criaturas, mas muitos grupos não ortodoxos não partilhavam desta visão. Desde então, no decorrer da Idade Média, todos os seguidores das filosofias que eram contra o abate e abuso dos animais, eram considerados fanáticos, hereges e frequentemente perseguidos pela Igreja e queimados vivos. No entanto, conseguiram escapar a este terrível destino dois notáveis vegetarianos - Santo David (Santo Padroeiro de Wales) e São Francisco de Assis. O mundo medieval considerava que os vegetais e cereais eram comida para os animais. Somente a pobreza compelia as pessoas a substituírem a carne pelos vegetais. A carne era o símbolo de status da classe alta. Quanto mais carne uma pessoa pudesse comer, mais elevada era a sua posição na sociedade.

      No Renascimento
      No início da era Renascentista, a ideologia vegetariana surgiu como um fenómeno raro. A fome e as doenças imperavam, enquanto as colheitas falhavam e a comida escasseava. A carne era muito pouca e um luxo apenas para os ricos. Foi durante este período que a filosofia clássica (greco-romana) foi redescoberta. O Pitagorismo e o Neo-Platonismo tornaram-se novamente uma grande influência na Europa.
      Com a sangrenta conquista de novos territórios, novos vegetais foram introduzidos na Europa, tais como as batatas, a couve-flor e o milho. A adopção destes novos alimentos trouxe imensos benefícios à saúde, ajudando a prevenir doenças dermatológicas, que eram na altura muito frequentes.

      No Iluminismo
      Com o Iluminismo do século XVIII, emergiu uma nova perspectiva do lugar do Homem na ordem da criação. Argumentos de que os animais eram criaturas inteligentes e sensíveis começaram a ser ouvidos e objecções morais a serem colocadas, à medida que aumentava o desagrado pelo desrespeito e abuso dos animais.
      Nas religiões ocidentais houve um ressurgimento da ideia de que, na realidade, o consumo de carne era uma aberração e ia contra a vontade de Deus e contra a genuína natureza da humanidade. Nestes dias, os métodos de abate eram extremamente bárbaros. Os porcos eram chicoteados até à morte com cordas cheias de nós para tornar as carcaças mais tenras, e os pescoços das galinhas eram golpeados, para depois serem penduradas e deixadas a sangrar até morrer.
      Vegetarianos famosos deste período incluíram os poetas John Gay e Alexander Pope, o médico Dr. John Arbuthnot e o fundador do movimento metodista John Wesley. Grandes filósofos como Voltaire, Rousseau e Locke, questionaram a inumanidade do Homem em relação aos animais; e a obra de Paine, The Rights of Man, de 1791, despertou muitos assuntos a respeito dos direitos dos animais.

      No século XIX
      A influência do Cristianismo radical, no século XIX, deveu-se à grande difusão do vegetarianismo na Inglaterra e nos Estados Unidos. Os fundamentalistas cristãos provieram de grandes congregações existentes na recente e pobre zona urbana. Estes representantes estavam a sair da Inglaterra e a espalhar-se por outros países europeus, e as comunidades vegetarianas nos Estados Unidos eram formadas maioritariamente por Adventistas do Sétimo Dia. Um notável praticante desta religião era o Dr. John Harvey Kellogg, o inventor dos cereais Kellogg`s.
      Por volta de 1880, os restaurantes vegetarianos eram populares em Londres e ofereciam refeições baratas e nutritivas.

      No século XX
      Com o virar do século XX, a população britânica encontrava-se ainda num estado de pobreza. A Sociedade Vegetariana, durante a crise de 1926, distribuía alimentos às comunidades mais carenciadas - o vegetarianismo e o humanitarismo estiveram sempre proximamente relacionados.
      Devido à escassez de alimentos durante a Segunda Guerra Mundial, os britânicos foram encorajados a “Escavar para a Vitória” (Dig For Victory), para cultivarem os seus próprios vegetais e frutas. A dieta vegetariana manteve a população, e a saúde das pessoas melhorou muito durante os anos em guerra.
      Nos anos 50 e 60 do século XX, muitas pessoas tomaram consciência do que se passava nas unidades de produção intensiva, introduzidas após a guerra. O vegetarianismo tornou-se muito apelativo quando as influências orientais se espalharam pelo mundo ocidental.
      Durante as décadas de 80 e 90, o vegetarianismo ganhou um maior ímpeto, quando o desastroso impacto que a população humana estava a causar no planeta se tornou mais evidente. Os assuntos ambientais dominaram os noticiários e estiveram durante muito tempo em primeiro plano na política. O vegetarianismo foi encarado como parte do processo para a conservação dos recursos.

      Actualmente
      Mais recentemente, assuntos como as importações de gado foram motivo de oposição ao consumo de carne por parte de muitas pessoas, por todo o Reino Unido. Preocupações em relação à saúde surgiram quando as pessoas se aperceberam de que os animais para consumo estavam infectados com doenças como a “doença das vacas loucas” (BSE), listeria e salmonelas.
      Desde os anos 80 do século XX, a consciência popular tem-se focado cada vez mais num regime de vida saudável. O vegetarianismo passou então a ser associado à saúde e dados cada vez mais concretos apontaram a carne como causa de inúmeras doenças. Consequentemente, o não consumo de carne e outros produtos animais foi associado à não-violência e ao respeito pelos animais. Desde então organizações de defesa animal e promoção do vegetarianismo/veganismo começaram a ganhar cada vez mais força e a desenvolver acções mundiais.
      Os benefícios do vegetarianismo têm sido evidentes ao longo de todas as culturas, e uma dieta exclusivamente à base de vegetais tem mantido a população humana desde há milhões de anos atrás.
      Com a população global a crescer de forma exaustiva e os recursos a decrescerem de forma assustadora, o vegetarianismo/veganismo é considerado por muitos como a solução para todos os problemas da humanidade e irá influenciar grandemente o futuro das gerações que se seguem.


      Referências:
      http://www.vegetarianismo.com.br/artigos/carne-imperio-romano.html
      http://www.vegsoc.org/news/2000/21cv/ages.html
      http://www.vegsoc.org/members/history/150hist.html
      http://www.ivu.org/history/museum.html
      http://www.vegetarianismo.com.br/artigos/veg-na-antiguidade-greco-romana.html
      http://www.vegetarianismo.com.br/artigos/HistoriaDovegetarianismo.html
      Super Interessante, 18ª edição, Outubro de 1999.



      http://www.centrovegetariano.org/Article-300-Vegetarianismo%2Bao%2Blongo%2Bda%2BHist%25F3ria.html











      Vegetarianismo

      Autor: Dr. George Guimarães
      É considerada vegetariana a pessoa que elimina de seu cardápio o consumo de todo tipo de carne (boi, frango, peixe, frutos do mar). Os motivos que levam uma pessoa a adotar uma dieta vegetariana são diversos. Entre eles estão: saúde, meio ambiente, compaixão pelos animais e religião.

      Existem várias formas de vegetarianismo, classificadas de acordo com o grau de restrição de alimentos:

      Ovo-Lacto-Vegetarianos - Consomem ovos, leite e derivados. É a forma mais comum de vegetarianismo.

      Lacto-Vegetarianos - Consomem leite e derivados. Não consomem ovos. Geralmente relacionados com filosofias indianas. Esta é a característica alimentar da maioria da população indiana.

      Vegans ou Vegetarianos Puros - Não consomem nenhum produto de origem animal, inclusive ovos, leite e derivados, gelatina e mel. Os vegans vão ainda além da questão alimentar, abstendo-se também do consumo de lã, couro e cosméticos que contenham derivados animais ou que tenham sido testados em animais. É a forma mais completa e mais rara de vegetarianismo, apesar do número de adeptos estar crescendo ultimamente.

      Pessoas que incluem carnes em sua alimentação são chamadas de onívoras.


      Estudos científicos constantemente provam os benefícios que uma dieta vegetariana proporciona, que vão desde melhor desempenho nos esportes à reversão de doenças do coração:

      Controle de Peso: Uma dieta isenta de produtos animais é pobre em gordura, o que reduz o conteúdo calórico da refeição. Além disto, outros fatores como o conteúdo de fibras da dieta também contribuem para a redução e manutenção do peso ideal. Para obter a mesma quantidade de calorias, a pessoa precisa ingerir uma quantidade maior de alimentos, o que possibilita mais saciedade com menos calorias.

      Redução do Risco de Doenças do Coração: Além de ser mais pobre em gordura, uma dieta sem produtos animais (carnes, ovos, leite e derivados) é totalmente isenta de colesterol. A abundância de fibras da dieta ainda ajuda o organismo a eliminar o colesterol excessivo.

      Redução do Risco de Desenvolver Câncer: Os alimentos de origem vegetal são muito ricos em vitaminas e minerais que são de fundamental importância para uma boa saúde. A baixa quantidade de gordura e a abundância de fibras presentes nestes alimentos também contribuem para a redução do risco de desenvolver várias formas de câncer.

      Outros Benefícios: Melhora a disposição e energia, possibilita a descoberta de novos alimentos, reduz o risco ou amenizar os efeitos de doenças degenerativas como osteoporose, obesidade e hipertensão, reduz os sintomas ou elimina alergias e artrites, evita sofrimento de animais, reduz as agressões ao meio ambiente.

      Uma dieta vegetariana é um passo obrigatório no caminho de uma vida saudável!
      .
      Muitos se perguntam o que resta para um vegetariano puro (vegano) comer já que ele elimina todos os alimentos de origem animal de sua alimentação. Veja só quantos alimentos ainda sobram:
      Vegetais: folhas, legumes, brotos

      Cereais:
      arroz integral, trigo, aveia, milho e cevada

      Leguminosas:
      feijão, lentilha, grão-de-bico, soja, ervilha

      Tubérculos:
      batata, mandioca, mandioquinha, cará, inhame

      Frutos oleaginosos:
      nozes, amêndoas, castanhas, avelã

      Frutas:
      banana, caqui, pinha, fruta do conde, mamão, figo, tâmara, frutas secas, manga, uvas, ameixa doce, pêssego doce, pêra, maçã, abacaxi, morango, maracujá, frutas cítricas, carambola, kiwi, tomate, maçã fuji e maçã verde, melão, melancia.

      Enfim, tudo que é vegetal. Dá pra comer bem, não dá? Os ovo-lacto-vegetarianos ainda incluem em seus cardápios os ovos, o leite e seus derivados.

      O mais provável é que a dieta vegetariana traga muitos benefícios para quem a pratica, mas alguns cuidados são necessários.

      Em primeiro lugar, a pessoa deve procurar a orientação profissional de um nutricionista, como em qualquer transição alimentar. Não é incomum que vegetarianos se queixem de terem procurado um nutricionista e terem sido mal orientados na sua opção alimentar, muitas vezes tendo recebido a recomendação de voltar a comer carne. A verdade é que os profissionais desta área estão mal preparados, desde a faculdade, para lidar com pacientes vegetarianos, por isso é importante buscar dentre os poucos nutricionistas que se especializam em dietas vegetarianas ou alternativas.

      A informação é a principal arma de quem busca adotar uma dieta vegetariana. É preciso conhecer novos alimentos, aprender novas receitas e saber quais são as fontes dos nutrientes mais importantes. Quanto mais informada a pessoa estiver, mais apta ela estará a discernir entre fatos e mitos, o qu eé muito importante quando se trata de nutrição vegetariana.

      Uma das questões mais rodeadas de mitos no vegetarianismo é a questão em torno da proteína. Os alimentos vegetais são capazes de suprir o organismo com toda a proteína necessária, seja para uma criança, um idoso ou até mesmo um atleta. Na verdade, existem muitos atletas vegetarianos famosos, como Emerson Fittipaldi, Éder Jofre, Carl Lewis,

      Vale saber também que existem muitas crianças vegetarianas (e até mesmo vegans) e elas podem crescer saudáveis e felizes neste estilo alimentar desde o nascimento. Neste caso, alguns cuidados especiais devem ser observados e se torna ainda mais importante a presença de um profissional especializado em nutrição vegetariana.

      Boas fontes de proteína são as leguminosas (feijão, soja, grão-de-bico, ervilha, lentilha), as castanhas e o brócolis. Quando a dieta não é rica em alimentos refinados, não há grandes preocupações com a proteína ou o ferro.

      O ferro é outro nutriente polêmico da alimentação vegetariana e igualmente rodeado de mitos. Será que o vegetariano corre risco de anemia por não consumir carne vermelha? É verdade que a carne vermelha tem muito ferro, mais ferro que os vegetais em geral, mas isto não significa que os vegetais não possam suprir as necessidades de ferro do organismo. Desde que se assegure que alguns estejam presentes na dieta, o vegetariano pode ficar tranqüilo. Boas fontes de ferro são: soja, tofu (queijo de soja), feijão, vegetais de folha verde-escura (brócolis, couve), amêndoas, semente de girassol, damasco seco e figo seco.





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