A VIDA É O QUE FAZEMOS DELA!


quinta-feira, 29 de outubro de 2009

Poemas Favoritos I


" Há duas coisas horrendas,
no fim dos pobres mortais:
A mentira das legendas...
E a pompa dos funerais."
( Fidélis Alves )
*
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TUAS CARTAS
Tuas cartas rasguei uma por uma:
cento e quatorze páginas e tirasde
confissão e juramento: em suma,
de perfídia,de enganos, de mentiras.
E chorei, ao rasgá-las! Tinha alguma
cousa implorando contra as minhas iras
sem todas; e, hoje, irritação nenhuma
neste peito verás, por mais que o firas.
Eram mentiras, eu bem sei...No entanto,
cada rompida página era um cardo
Que enterrava do peito em cada canto.
E eis porque, pelo chão , após instantes,
Os pedaços juntei...e agora os guardo
Com mais amor do que os guardava antes."
( Humberto de Campos )
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Aos afetos e lágrimas derramadas na ausência da dama a quem queria bem.
Ardor em fime coração nascido,
pranto por belos olhos derramado;
incêndio em mares de água disfarçado,
rio de neve em fogo convertido:
tu, que em um peito abrasas escondido;
tu, que em um rosto corres desatado;
quando fogo, em cristais aprisionado;
quando cristal, em chamas derretido.
se és fogo, como passas brandamente?
se és neve, como queimas com porfia?
mas ai, que andou Amor em ti prudente!
Pois, para temperar a tirania,
como quis que aqui fosse a neve ardente,
permitiu parecesse a chama fria."
( Apud Ayala )
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" O sonho é ver as formas invisíveis
Da distâcia imprecisa, e com sensíveis
Movimentos da esperança e da vontade,
Buscar na linha fria do horizonte
A árvore, a praia, a flor, a ave, a fonte -
Os beijos merecidos da verdade."
( Fernando Pessoa )
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ORIGINAL DE MACEDO
Mulher, irmã, escuta-me: não ames.
Quando a teus pés um homem terno e curvo
Jurar amor, chorar pranto de sangue...
Não creias, não mulher: ele te engana!
As lágrimas são galas da mentira
E o juramento manto da perfídia.
( Joaquim Manoel de Maedo )
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NOTURNO
Nem uma luz de esperança,
nem um sopro de bonança
na fronte sinto passar!
os invernos me despiram
e as ilusões que fugiram
nunca mais hão de voltar!
Tombam as selvas frondosas,
cantam as aves mimosas
as nêmias da viuvez ( * cantos fúnebres )
tudo, tudo, finando....
mas eu pergunto chorando:
quando será minha vez?
No véu etéreo dos planetas;
no casulo das borboletas
gozam da calma final;
porém meus olhos cansados
são a mirar condenados
dos seres o funeral!
Quero morrer! Este mundo
com seu sarcasmo profundo
manchou-me de lodo e fel!
minha esperança esvaiu-se,
meu talento consumiu-se
dos martírios ao tropel!
Quero morrer! Não é crime
o fardo que me comprime,
dos ombros, lançá-lo ao chão;
do pó desprender-me rindo
e as asas brancas abrindo
perder-me pela amplidão!
Vem, oh! Morte! A turba imunda
em sua ilusão profunda
te odeia, te calunia...
pobre noiva tão formosa
que nos espera amorosa
no termo da romaria!
Virgens, anjos e crianças
coroadas de esperanças
dobram a fronte a teus pés!
os vivos vão repousando!
e tu me deixas chorando!
quando será minha vez?
Minh'alma é como um deserto
por onde o romeiro incerto
procura uma sombra em vão;
É como a ilha maldita
que sobre as vagas palpita
queimada por um vulcão!
( Fagundes Varela )
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SONETO
Pálida, à luz da lâmpada sombria,
sobre o leito de flores reclinada,
como a lua por noite embalsamada,
entre as nuvens do amor ela dormia!
Era a virgem do mar! na escuma fria
pela maré das águas embaladas!
era um anjo entre nuvens d'alvorada..
que em sonhos se banhava e se esquecia!
Era mais bela! o seio palpitando...
negros olhos as pálpebras abrindo..
formas nuas no leito resvalando...
Não te rias de mim, meu anjo lindo,
por ti - as noites eu velei chorando,
por ti - nos sonhos morrerei sorrindo!
( Álvares de Azevedo )
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O homem sempre destrói aquilo que mais ama,
em campo aberto ou em uma emboscada,
alguns com a leveza do carinho,
outros com a dureza da palavra.
Os covardes a destroem com um beijo
os valentes a destroem com a espada.
( Oscar Wilde )
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