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segunda-feira, 7 de dezembro de 2009

Fábulas - La Fontaine

La Fontaine: Fabulista e Poeta.
Jean de La Fontaine nasceu em 1621, e passou boa parte de sua vida sob a proteção da nobreza parisiense, permitindo-lhe consagrar-se inteiramente às letras; tornou-se um indolente, um espectador da existência. Sua moral, a dos "moralistas", é pragmática e utilitária, razão pela qual o processo literário de La Fontaine apenas tangencia o dos outros fabulistas: em vez de humanizar os animais, animaliza os homens. Por isso, suas fábulas são, espirituosas e irreverentes, irônicas e anticonvencionais.
Na poesia, embora La Fontaine reflita extraordinário domínio da língua, não é virtuoso, apenas eficiente, ou seja, deve ser compreendido e degustado como consequência do amor do artista por todas as coisas.



Algumas de suas Fábulas



1. A raposa e as uvas.
2. A cigarra e as formigas.
3. O lobo e o cordeiro.
4. O asno carregado de relíquias.
5. A galinha dos ovos de ouro.
6. O carvalho e o caniço.
7. A lebre e a tartaruga.
8. O asno e o cavalo.
9. Os dois amigos e o urso.
10. O leão e o rato.


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A raposa e as uvas.


Certa raposa matreira,
que andava à toa e faminta,
ao passar por uma quinta,
viu no alto da parreira
um cacho de uvas maduras,
sumarentas e vermelhas.
Ah, se as pudesse tragar!
Mas lá naquelas alturas
não podia alcançar.
Então falou despeitada:
- Estão verdes essas uvas.
Verdes não servem pra nada!
*
Como não cabem quatro mãos em duas luvas, há quem prefira desdenhar a lamentar.



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A cigarra e a formiga

Tendo a Cigarra cantado
durante todo o verão,
viu-se ao chegar o inverno
sem nenhuma provisão.
*
Foi à casa da Formiga,
sua vizinha, e então
lhe disse: - Querida amiga,
podia emprestar-me um grão
que seja, de arroz,
de farinha ou de feijão?
Estou morrendo de fome.
*
- Faz tempo então que não come? -
lhe perguntou a Formiga,
avara de profissão.
- Faz.
- E o que fez a senhora,
durante todo o verão?
- Eu cantei - disse a Cigarra.
- Cantou, é? Pois dança, agora!


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O lobo e o cordeiro.


Na água limpa de um regato,
matava a sede um Cordeiro,
quando, saindo do mato,
veio um Lobo carniceiro.
*
Tinha a barriga vazia,
não comera o dia inteiro.
- Como tu ousas sujar
a água que estou bebendo?
- rosnou o Lobo, a antegozar
o almoço. - Fica sabendo
que caro vais me pagar!
*
- Senhor - falou o Cordeiro -
encareço à Vossa Alteza
que me desculpeis, mas acho
que vos enganais: bebendo,
quase dez braças abaixo
de vós, nesta correnteza,
não posso sujar-vos a água.
*
- Não importa. Guardo mágoa
de ti, que ano passado,
me destrataste, fingido!
- Mas eu nem tinha nascido.
- Pois então foi teu irmão.
- Não tenho irmão, Excelência.
- Chega de argumentação.
Estou perdendo a paciênciz!
- Não vos zangueis, desculpai!
- Não foi teu irmão? Foi teu pai
ou senão foi teu avô -
disse o Lobo carniceiro.
E ao Cordeiro devorou.
*
Onde a lei não existe, ao que parece, a razão do mais forte prevalece.



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O asno carregado de relíquias



Um asno, de relíquias carregado,
vendo que se faziam reverências
quando passava,
julgou-se ele o reverenciado.
*
Por que iriam reverenciá-lo
já que não merecia a distinção?
Mas isso o Asno não se perguntava.
Seguia em frente, todo presunção.
*
Até que um cidadão que ali passava
fê-lo voltar ao bom senso:
*
- Lembre-se, seu Asno, que a vaidade cega.
Não é para o senhor que queimam incenso,
mas para essas relíqias que carrega.
*
Também ao mau juiz não se respeita, e sim, à toga que o enfeita.



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A galinha dos ovos de ouro


Havia um homem que
tinha uma galinha
que punha ovos de ouro.
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Por avidez e burrice,
pensou: se a galinha abrisse,
encontraria um tesouro.
*
Ah, cobiça desastrada!
Morta e aberta a galinha
viu que lá dentro não tinha
nada!
*
Por excesso de ambição, podes perder teu quinhão!


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O carvalho e o caniço


- Bem podes te queixar da Natureza,
disse o Carvalho ao tímido Caniço.
- Ela, em vez de te dar a fortaleza
de um carvalho, te fez assim, magriço.
Até mesmo um pardal, que nada pesa,
te faz curvar a espinha, facilmente.
Já eu, de fronte erguida e com nobreza,
enfrento o furacão galhardamente!
*
- Por teres tão bondoso coração
sentes pena de mim - disse o Caniço.
- Mas não precisa tal preocupação,
uma vez que, mostrando-me submisso,
enfrento com vantagem o furacão:
vergo e não quebro. Tu, enquanto isso,
corres o risco de quebrar.
E então
um vento forte passou a soprar,
tudo arrastando no seu turbilhão.
O Caniço vergou-se sem quebrar.
Já o Carvalho, em poder vergar,
foi arrancado e desabou no chão.
*
Às veze ter bom jogo de cintura é mais vantagem que musculatura.


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A lebre e a tartaruga


A Tartaruga certo dia
desafiou a Lebre
para uma porfia.
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- Chego antes de você -
disse à Lebre,
que reagiu sorridente.
- Antes de mim?! Estás demente!
*
- Então é pagar para ver -
insistiu a Tartaruga.
- Aposto que vou vencer!
Acertou-se enfim a aposta.
A corrida começou.
A Tartaruga partiu, disposta,
a Lebre riu, nem ligou.
*
Antes foi comer um nabo,
puxar ronco e coisa e tal...
E quando ao fim e ao cabo,
deu por si, a Tartaruga
chegava ao ponto final.
*
Disparou feito uma flecha
mas não deu, chegou depois.
Assim foi que a Tartaruga venceu a Lebre veloz.
*
Correr muito não é suficiente: Mais vale ser atento e persistente.


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O asno e o cavalo



Um asno, de passo tardo,
mal podendo suportar
o pesadíssimo fardo
que tinha de carregar,
pediu ao Cavalo: - Amigo,
podes dividir comigo
a carga que mal suporto?
Se assim continuar,
muito em breve estarei morto.
O Cavalo respondeu:
- Com isso pouco me importo.
*
Sem demora, o Asno morreu.
Então o dono dos dois
transferiu para o Cavalo
todos os sacos de arroz.
*
E foi assim que um esperto acabou bancando o otário e pagou um alto preço porque não foi solidário.


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Os dois amigos e o urso


Iam os dois homens pela estrada
quando um urso os atacou.
Enquanto um deles caiu,
o outro, em desabalada
fuga, numa árvore subiu.
O que ficou se fingiu
de morto. O urso o cheirou,
mexeu, virou, revirou,
finalmente desistiu.
*
Depois que o urso sumiu,
o outro, de volta, rindo,
ao amigo perguntou:
- Quando fuçou teu ouvido,
o que o urso falou?
*
- Que nas horas de perigo,
se conhece o falso amigo.



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O leão e o rato


Ao deixar seu buraquinho,
viu-se o pobre do Ratinho
entre as patas do Leão.
Levou um susto sem nome.
Acontece que o felino,
talvez por não estar com fome,
não qui o Rato matar
*
Gesto que não foi em vão.
Quem iria imaginar
que um simples rato pudesse
um dia o Leão salvar?
*
Pois é isso que acontece!
Pensando em matar a sede,
o Leão buscava o rio
quando caiu numa rede.
*
O bicho ficou bravio
e embora se debatesse
não lograva se livrar.
Chegou o Ratinho, então,
roeu os fios da rede
e libertou o Leão.
*
Pode alguém que a gente ajude um dia nos dar a mão. Dá até lucro a virtude!


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Um comentário:

  1. Pena que nos dias em estamos vivendo não mais trabalhamos com fábulas em nossas escolas muito menos em casa,para darmos Educação para nossas crianças!

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