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quarta-feira, 18 de agosto de 2010

De Profundis - Oscar Wilde






De Profundis é o título de uma obra de Oscar Wilde de 1897, que toma a forma de uma longa e emocional epístola épica ao seu amante Alfred
Douglas, escrita na prisão de Reading, onde cumpria pena de prisão por
comportamento indecente e sodomia.

"Por detrás da alegria e do riso, pode haver uma natureza vulgar, dura
e insensível. Mas por detrás do sofrimento, há sempre sofrimento. Ao
contrário do prazer, a dor não usa máscara" (Behind joy and laughter
there may be a temperament, coarse, hard and callous. But behind sorrow
there is always sorrow. Pain, unlike pleasure, wears no mask).

Enquanto na prisão Wilde não foi autorizado a enviar a carta que
escrevera, apenas lhe foi permitido levar o manuscrito consigo no final
da pena. Wilde acabou por confiar o manuscrito ao seu amigo jornalista
Robert Ross, que fez duas cópias dactilografadas. Uma terá sido enviada
a Douglas, que negou sempre tê-la alguma vez recebido. Em 1905, quatro
anos após a morte de Wilde, Ross publicou uma versão reduzida (cerca de
um terço) da carta com o título De Profundis, que viria a ser utilizado
sempre em edições posteriores. O original foi doado em 1909, por Ross,
ao British Museum, com a condição expressa que não fosse apresentada ao
público durante cinquenta anos. A segunda cópia dactilografada foi
utilizada para a publicação da "primeira versão completa e rigorosa"
por Vyvyan Holland, filho de Wilde, em 1949. Na realidade, quando em
1960, o manuscrito foi tornado público, foi possível estabelecer que a
cópia dactilografada continha cerca de uma centena de erros. A versão
correcta viria a ser publicada em 1962 no livro de cartas The Letters
of Oscar Wilde.






Não sou do tipo que gosta de fazer apologia a movimentos tidos como "politicamente incorretos", nem de ir contra todos simplesmente pelo fato de querer ser diferente. Muito pelo contrário, quase sempre
concordo com o que é "sensato"e com a "razão". Mas... o que é sensatez?
Como definir a razão?
Em 1905, Robert Ross publicou uma série de relatos em forma epistolar
de um grande amigo e escritor do século XIX, Oscar Wilde. Os relatos em
questão são conhecidos pelo nome De Profundis. O livro é, em resumo, a
defesa que foi negada a Wilde durante o julgamento que deu início ao
fim de sua vida, uma defesa que ninguém se interessou por ouvir já que
todos concordavam que Wilde havia "ferido a moral" da sociedade
conservadora inglesa da época. Cada uma de suas partes corresponde às
cartas que Wilde escrevia para o seu grande amor, na tentativa de
fazê-lo entender como ele (o grande amor) havia destruído sua vida e
nem olhado para trás a fim de pedir-lhe desculpas.

A história de vida de Wilde já é fascinante por si só. Escritor de
peças assistidas por inúmeras figuras importantes da época, e sempre
aclamado ao final das apresentações, este escritor irlandês (nascido em
Dublin) altamente irônico e perspicaz praticamente abandonou tudo que
havia conseguido graças a sua arte para se unir a um jovem mesquinho,
egoísta e extremamente fútil, Sir Alfred Douglas.

Após lançar A Importância de Ser Prudente (The Importance of Being
Earnest), peça extremamente hilária, e seu maior sucesso sem sombra de
dúvidas, a vida de Wilde parecia ter chegado ao auge. Mas uma armadilha
do destino levou-o a conhecer Sir Alfred Douglas, jovem de futuro
promissor que passava por algumas dificuldades na universidade, e que
foi apresentado a Wilde exatamente por isso, uma vez que viam no
escritor um grande exemplo para jovens estudiosos. Wilde já havia
descoberto sua homossexualidade e conseqüente atração por pupilos, mas
tudo não havia passado de distrações até Bosie (como Sir Alfred era
conhecido) aparecer em sua vida. Devotando a este jovem todo seu amor,
paixão, dinheiro e, até mesmo, a própria arte, Wilde gradualmente deu
início ao seu fim, até a morte. Uma vez que o homossexualismo era
severamente condenado em sua época, Wilde foi mandado para a prisão em
nome do amor, amor por seu "Bosie". Após um infeliz julgamento,
iniciado pelo pai de Bosie, Wilde viu-se totalmente cercado de inimigos
e falsos moralistas que o acusavam de ter "ferido a moral" ao manter
relações íntimas com outro homem, não se importando com o tamanho dos
danos que assim causavam à sua vida e à de sua família. Esta é a
história real de De Profundis, um dos melhores auto-retratos já
escritos por um poeta que, mais do que ninguém, conheceu o verdadeiro
significado da palavra "amor".

Durante os dois anos que passou na prisão, Wilde escreveu todos os
altos e baixos de sua conturbada "amizade" (como gostava de se referir)
com Sir Alfred. Parecido com um diário, De Profundis é o coração e a
alma de Oscar Wilde em suas versões mais explícitas e sinceras. E o que
mais chama a atenção nesta singular narrativa é o fato de ele nunca ter
feito sequer uma revisão na obra. Isso porque, na prisão, apenas duas
folhas de papel lhe eram entregues por dia e, mesmo assim, retiradas ao
final da tarde, para serem entregues de volta somente na data de sua
libertação. Significa dizer que a versão que podemos contemplar hoje,
em pleno ano 2002, e quase 100 anos após a primeira edição, é
exatamente a mesma que Robert Ross publicou em 1905!

Oscar Wilde foi um exemplo de homem que seguiu seus impulsos e suportou
as conseqüências até o fim. Sim, até o fim, pois mesmo depois de
liberto, já totalmente esquecido e ignorado por seu grande amor, Wilde
procurou Bosie para se decepcionar pela última vez. E morrer doente e
sozinho, a não ser por seu fiel amigo Robert Ross.

De Profundis não é apenas a história de Oscar Wilde contada por quem a
sofreu na pele; é a história de um grande homem que sofreu por amar,
que quebrou as regras para viver o que acreditava ser o certo, seguir
sua razão. De Profundis é a prova de que podemos chegar a este nível de
amadurecimento. Porque razão é ver sentido no que se faz. E só o amor
pode fazer coisas absurdas fazerem sentido.

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