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quarta-feira, 25 de agosto de 2010

Escultura do gótico IV

Inglaterra, Escandinávia e Países Baixos


Na Inglaterra o Gótico surgiu pouco depois do que na França, mas ali o conceito do "grande portal" jamais se implantou como uma regra, e aparece em poucas ocasiões, como na Catedral de Rochester, mas mesmo ali é
mais simplificado. Antes, a escultura gótica inglesa se concentrou em
outras áreas do edifício, como se exemplifica na Catedral de Wells, onde aparece em nichos da fachada e em
partes do interior, como no coro e salas capituladas, e sua qualidade se
compara aos modelos franceses. Entre os séculos XIV e XV a estatuária
fachadista quase desapareceu por completo, e em seu lugar se preferiu
empregar decoração abstrata ou com motivos vegetais. Vários artistas
alemães e flamengos já estavam ali ativos e o interesse se deslocou para
outras tipologias, como as tumbas, das quais se destaca a de Eduardo II, e diversas outras na Abadia de Westminster. Também se percebe nas fases
finais uma reintegração da escultura com a arquitetura, novamente nos
interiores, em capelas e painéis de coro, onde as estátuas são
emolduradas por rica ornamentação de formas arquiteturais. A capela de Henrique VII em Westminster é o
exemplo mais importante desse gênero. Mas as conquistas mais originais
da escultura gótica inglesa estão nas tumbas. Algumas delas, mais
antigas, não apresentam a imagem do morto em repouso, mas como um herói
caído em batalha, em posições contorcidas a exalar seu derradeiro
suspiro; outras, da transição entre o Gótico internacional e o Gótico
tardio, os mostram como cadáveres comidos pelos vermes, com requintes
repugnantes de realismo, a recordar a efemeridade das coisas do mundo.
Parece certo que foi produzida também muita estatuária devocional em
toda a Inglaterra, com traços bastante únicos e grande riqueza plástica,
mas a massiva destruição que aconteceu quando Henrique VIII rompeu com Roma e fundou a Igeja da Inglaterra
prejudica o estudo de sua cronologia e evolução. Entretanto, algumas
peças avulsas exportadas para a Escandinávia que sobreviveram permitem sugerir
que a influência francesa permaneceu sempre forte.
No caso da Escandinávia o Gótico penetrou a partir do século XIII por várias frentes - França, Inglaterra e Alemanha - e a escultura produzida ali mostrou grande variedade e vitalidade em diversas escolas
regionais. Existem belas obras em marfim de elefante e de morsa,
e a madeira foi o material onde foram deixadas as peças mais
interessantes, como os crucifixos monumentais que se encontram em Gotland e
outras cidades. De qualquer forma foram construídas várias catedrais
com significativa decoração estatuária, como as de Uppsala. Skara e Trondheim.
Entre os séculos XIV e XV o comércio se intensificou com os membros da Liga Hanseática, e nessa fase a escultura escandinava
foi dominada pela influência da escola de Lubeck. 
Parece que nas primeiras fases do Gótico pouco houve de significativo na escultura dos Países Baixos, e o que existiu deve ter sido uma derivação francesa e renana; a Reforma Protestante ali fez estragos massivos, e
durante a I Guerra Mundial muitos
monumentos também desapareceram, e por isso pouco se sabe. Porém, é
certo que na altura do século XIV se estabelecera uma importante escola
em Tournai,
e o impacto dos mestres flamengos se fez sentir na escultura da
Inglaterra, da França e da Alemanha, tornando esse período um tanto
menos obscuro. A escola de Tournai deixou sua melhor representação em
tumbas, com uma estética ao mesmo tempo austera e naturalista. No século
XV os flamengos enfim se tornaram uma grande influência sobre toda arte
européia, contando com artistas do porte de Claus Sluter, Jean de Liége, Jacques de Baerze e muitos outros, que irradiaram sua arte
para outras regiões. Esse grande grupo de criadores trabalhou um pouco a
pedra, mas deixou suas obras mais importantes no gênero do retábulo em
madeira policroma, e com uma figuração tendendo para o dramático e o
dinâmico. 



 Península Ibérica


Na Espanha, a transição do Românico para o Gótico apareceu no Pórtico da Glória da Catedral de Santiago de Compostela, que é sobremaneira interessante porque ainda preserva
traços de sua policromia. Ao longo de toda evolução inicial do
Gótico espanhol, a influência francesa permaneceu predominante e, embora
em geral menos rico que na França, adquiriu uma feição muito original,
visível na assimilação de influências mouriscas,
numa tendência recorrente ao arcaísmo e no gosto pela ornamentação
floral luxuriante. Exemplos significativos de um Gótico pleno estão na Catedral de León e na Catedral de Burgos, que estavam nas rotas de peregrinação
da época e que foram decoradas com importante estatuária. Ao longo de
todo o século XIII, as outras regiões da Espanha permaneceram mais ou
menos alheias ao Gótico e as igrejas continuaram sendo erguidas à moda
românica. Entretanto, a importação de peças góticas francesas de
pequenas dimensões para devoção privada foi grande, e diversos artistas
franceses trabalharam em vários locais nesse gênero de obra. No século
XIV enfim, o estilo francês triunfou na maior parte das regiões, com a
exceção da Galiza
e da Estremadura, e os principais centros de
escultura monumental passaram a ser Navarra, Catalunha e Aragão.
Dessa fase são bons exemplos a Catedral de Barcelona e a Catedral de Saragoça, e ao mesmo tempo a
escultura passou a ser aplicada em uma variedade de outros espaços,
como em tumbas, salas capitulares e coros.
A partir do século XV, a influência francesa deu lugar à flamenga e alemã, que predominariam até a infusão do classicismo renascentista no reinado de Carlos V, no século XVI. Nessa fase o
interesse pela decoração monumental declinou, como em outros lugares da
Europa, e se transferiu para obras portáteis e peças de altar. Os
últimos grandes exemplos de estatuária de fachada em um Gótico puro
estão na Catedral de Toledo, na Catedral de Sevilha e em partes da ainda incompleta Catedral de Toledo. Na transição para o século XVI, os
elementos clássicos italianos já estavam bastante disseminados, fazendo
nascer uma escola eclética maneirista chamada plateresca,
que desenvolveu um estilo de decoração de fachada com estatuária
emoldurada por uma enorme complexidade de motivos geométricos e
vegetais. O mesmo plateresco se aplicou aos retábulos,
cuja sofisticação e riqueza ultrapassam os do norte da Europa da mesma
fase, mas cujo aspecto é claramente distinto. Um dos mais notáveis
autores de retábulos foi Gil de Siloé, e na estatuária independente um grande
representante foi Juan de Juni.
Portugal teve seu ciclo iniciando em torno de 1250, mas a escultura nunca foi especialmente favorecida. Seus principais exemplos são algumas tumbas da nobreza, entre elas os Túmulos de D. Pedro I e de Inês de Castro no Mosteiro de Alcobaça, e os maiores
centros de produção foram Coimbra, Lisboa, Santarém e Évora.
Entre o fim do século XV e o século XVI, floresceu o Estilo Manuelino, uma derivação
maneirista do Gótico que incorporava elementos clássicos. Seu principal
monumento é o Mosteiro dos Jerónimos, em Lisboa,
com um portal projetado por João de Castilho, ricamente decorado com estatuária e
ornatos diversos.



 Itália


O desenvolvimento do Gótico italiano é de todos possivelmente o mais atípico. Ali a tradição clássica sempre permaneceu relativamente viva através de muitas ruínas com relevos, sarcófagos
e lápides
tumulares que se preservaram do antigo Império Romano, e seus princípios são visíveis desde o
início da tradição gótica. Também foram responsáveis pela sua
manifestação mais breve. Na Itália não se desenvolveu significativamente
a tradição dos grandes portais, havendo maior número de obras em
nichos, tumbas e monumentos fúnebres, púlpitos e relevos. O estilo
apareceu primeiro na região central, no início do século XIII, com o
trabalho de Nicola Pisano e seu filho Giovanni Pisano, que deixaram obras de grande qualidade em Pisa e Siena que
foram inspiradas possivelmente nas figuras dos sarcófagos romanos que
existiam no Campo Santo de Pisa. O tratamento que deram à figura humana é
bastante classicizante, mas os trajes são elaborados mais de acordo com
o padrão francês e a ênfase é no dramatismo das cenas. O estilo de
ambos foi de grande influência para as gerações seguintes, especialmente
sobre Arnolfo di Cambio, Andrea Orcagna,Bonino da Campione, Tino di Camaino, Lorenzo Maitani e Giovanni di Balduccio, que o levaram
para outras áreas como Milão e Nápoles
e introduziram interpretações individualizadas. Outro mestre importante
foi Andrea Pisano, autor de célebres relevos para o Batistério de São João em Florença.
No início do século XIV os elementos clássicos já predominavam e se
iniciava o ciclo do Renascimento, mas ainda se podem detectar
influências góticas em esculturas de Lorenzo Gerti Ghibert e Donatello,
e também em vários artistas menores ativos nas periferias entre os
séculos XIV e XV.

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